Mail-Art ou Arte Postal surgiu na década de 60 e descende dos  movimentos artísticos produtores da arte não objetual, ultrapassando  assim os limites tradicionais dos sistemas de produção, consumo e  distribuição da arte.
Fundamentando a sua produção na desmaterialização do objeto artístico  a Arte Postal, ou Mail-Art torna a comunicação o seu principal  objetivo, marca de seu interesse pelo mundo dos signos e das linguagens,  demarcação do seu espaço como arte de veículo e de apoio na  comunicacão.
Seu fundamento concretiza uma correspondência, de participação  coletiva e internacional, comprometida com o consumo e a distribuição  interna da arte, podendo através das exposições ocorrer a condição  externa e socializada.
A Mail-Art utiliza como suporte os meios do sistema postal (envelope,  carimbos, folha de selos, selos e etc) pretendendo a obra como  “correspondência”, inter-relações, um processo que se humaniza e assume  as participações, fruições e interferências que ocorrem desde o  remetente ao manuseio pelos funcionários dos correios até o  destinatário.
Como uma rede de trabalhadores em arte, a mail-art organiza seu  processo de seleção através do convite institucional ou interno pela  rede. Uma instituição ligada a arte postal deve cumprir os princípios  que norteiam este sistema de produção, consumo e distribuição da arte.
A XVI Bienal de Artes Plásticas de São Paulo, reconhecendo o valor da  Arte Postal ou Mail Arte no processo histórico da arte, dedicou um  andar e um catálogo específico ao movimento da Arte Postal.
3.1. A ARTE POSTAL SEGUNDO LEILA MICCOLIS E JOICE GUMIEL PASSOS
Segundo Leila Miccolis, no livro “Do poder ao Poder”, “(…) a arte   surgiu na década de 60, numa época em que a comunicação tornou-se  difícil, pelos governos autoritários, apesar da multiplicidade dos meios  (…) a arte postal, arte correio, arte correpondência, ou qualquer outra  denominação que receba, surge não como um ismo e sim como a única saída  para a arte dos últimos tempos(…) esta arte que incurtou distância  entre povos e países, proporcionando exposições e intercâmbios  descentralizados (…) questionou os circuitos de distribuição, negou a  seleção e exigiu a retomada das suas principais funções: a comunicação, a  informação, a pesquisa estética e a crítica. O correio utilizado como  veículo e como meio, fazendo parte e sendo a própria obra, tem os seus  regulamentos questionados mas a comunicação ampliada.
“No entanto se engana quem pensa que a arte postal é apenas um cartão  artístico… segundo Bené Fonteles (Fortaleza) e Paulo Brusky (  Recife/PE): “A Arte Postal é um trabalho desenvolvido há anos por  artistas de quase todo mundo, visando o intercâmbio de comunicação e de  criação, através dos correios (…) com ela os artistas entre si trocam
as mais vastas informações, trabalhando desde o envelope, o selo, as  informações e relações, transformando tudo em função estética e  comunicação”.
Segundo Joice Gumiel Passos em “Mail Art: Brasil 500 Anos!”: “(…)  Mail-art… processual, eco, ativa…mail-art, arte correspondência,  arte-correio, arte-fórum, uma rede planetária que reúne,  democraticamente, diferenças ideológicas, culturais, sociais e estética.  Veículo adequado para as questões fóruns… de postura histórica,  crítica, festiva e estética, propondo desde o turismo, o fluxos, o dada,  a pornografia, a reciclagem, a ecologia, o homossexualismo… brain cell,  eat-art, hair-art, antropofagia… mail-art equivale a informação  simultânea, a troca recíproca, a cooperação, a conspiração cultural  cruzada e universal… um compromisso planetário em defesa das pequenas  causas que emerge na década de 60 e que resiste por suas características  de conjunção temporal, espacial, crítica, criativa e tecnológica… um  desafio monumental, universal, uma participação na comunhão planetária,  um reforço à resistência e à mobilização anárquica, irreverente,  marginal… uma passagem do mundo das coisas para o mundo dos signos… onde  os processos são mais importantes do que os objetos… mais comunicação e  menos artefatos… uma desmaterialização onde o que prevalece é uma  estética de recepção que libera todos os meios de comunicação como  suportes e instrumentos de produção, comunicação e distribuição:  correio, telex, telégrafo, telefone, rádio, faz, cinema, fumaça,  tambores, sinos, mentes, carimbos, selos, envelopes, xérox, fotografia,  performance, instalações, ensemblage, colagens, desenhos, pinturas,  situações… alguns métodos: comunicação direta e indireta, cartas em  cadeia, colagens coletivas, fóruns… arte postal é uma estrutura aberta,  trabalho coletivo, sem competição, que admite o junk-mail… uma  conferência de células inteligentes planetárias, terrivelmente humana,  que priveligia as ações rituais”, Rio de Janeiro, 1998.
 
 
 
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